Já reparou como as plataformas de geração de aplicativos com IA estão seguindo um rumo completamente diferente do que a maioria imaginava? Muitos apostavam em uma competição acirrada e de soma zero—uma guerra de preços que acabaria com apenas um líder absoluto. Contudo, a realidade surpreendeu: em vez de um embate fatal, cada plataforma ocupou um espaço próprio e diferenciado, prosperando em segmentos de mercado especializados. Isso me faz pensar em como o mercado de grandes modelos de linguagem evoluiu: igualmente inesperado e altamente instrutivo.
Ontem, os sócios da a16z, Justine Moore e Anish Acharya, publicaram juntos a análise “Batteries Included, Opinions Required: The Specialization of App Gen Platforms”—uma reflexão sobre o mercado das plataformas de geração de apps com IA que dialogou muito com minha experiência. Eles pontuaram que essas plataformas passam por um processo de diferenciação, tal qual vimos acontecer com os modelos fundacionais, migrando da concorrência direta para uma especialização focada. Isso me levou a rever as regras de todo o ecossistema de ferramentas de IA e a analisar mais profundamente o mito da “plataforma única para todos”. Sempre acreditei que “não existe código universal capaz de atender todos os casos”. Com tanta gente desenvolvendo com IA, os usos são incrivelmente variados: prototipação, sites pessoais, games, apps mobile, SaaS, ferramentas internas, entre outros. Como um único produto poderia realmente se destacar em todos esses campos?
Para mim, a tendência do mercado é, inevitavelmente, a segmentação. Um aplicativo voltado ao consumidor, que cria landing pages atraentes, jamais será semelhante a uma plataforma empresarial de ferramentas internas. O primeiro precisa de integração com Spotify e pode viralizar no TikTok; o segundo exige conformidade SOC 2 e é negociado de cima para baixo com CTOs. O mercado é grande o suficiente para várias empresas multibilionárias. O real caminho do sucesso é tornar-se referência absoluta em um caso de uso específico—focando nos recursos, integrações e estratégias de entrada necessários para dominar o segmento.
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Olhando para o mercado dos modelos fundacionais em 2022, quase todo mundo cometeu dois equívocos. Primeiro, achou que esses modelos eram facilmente intercambiáveis, como trocar de provedor de armazenamento em nuvem. Se você já escolheu um, para que considerar outro? Segundo, porque eram vistos como substitutos, esperava-se uma disputa feroz por preço e que só vencesse quem cobrasse menos.
Só que aconteceu algo totalmente diferente. O que vimos foi uma explosão de crescimento por todos os lados. O Claude investiu pesado em geração de código e escrita criativa. O Gemini conquistou um espaço próprio em multimodalidade, com alto desempenho a baixo custo. O Mistral apostou em privacidade e implantação local. O ChatGPT se consolidou como o “hub” para quem quer o assistente geral mais amplo e útil. O mercado não virou monopólio; pelo contrário, expandiu: mais modelos, mais diversidade, mais inovação. Os preços não caíram—subiram. O Grok Heavy, que oferece recursos de IA para programação e modelos virais de texto para imagem, cobra hoje US$ 300 por mês—algo impensável há poucos anos em software de consumo.
Isso também aconteceu em outros segmentos. Em 2022, muita gente dizia que a geração de imagens seria “tudo ou nada”—“um modelo para todos”. Mas agora existem Midjourney, Ideogram, Krea AI, BFL e outros, todos bem-sucedidos, atuando juntos e cada um com especialização em estilos visuais ou fluxos de trabalho diferentes. Não são “melhores” ou “piores”—expressam visões artísticas e conjuntos de recursos próprios, atendendo gostos e demandas variadas.
Se observar mais de perto, verá que esses modelos não competem de verdade—eles se complementam. É o contrário de uma queda de preços generalizada. O jogo é positivo: usar uma ferramenta aumenta a probabilidade de pagar por outra. Minha rotina ilustra bem. Uso o Claude para gerar código rápido; o Gemini para análise multimodal; e o ChatGPT para escrita criativa. Cada ferramenta tem um ponto forte. Elas não disputam minha atenção—atendem necessidades diferentes em contextos distintos.
Enxergo o mesmo movimento nas plataformas de geração de aplicativos por IA. Essas ferramentas ajudam pessoas a criar apps completos com IA. É fácil focar na disputa aparente—Lovable, Replit, Bolt etc. Mas, na prática, não se trata de um “vencedor leva tudo”. O mercado é vasto e continua crescendo, com muito espaço para múltiplos players prosperarem em nichos específicos.
Como a Justine destaca, o mercado já começa a se segmentar, com cada plataforma se destacando em uma área específica:
Cada categoria deve abrigar plataformas para todos os tipos de usuários, do público leigo aos gerentes de produto sem perfil técnico até desenvolvedores avançados. No fim, todo tipo de app terá uma solução ideal. Dados da Similarweb já mostram, mesmo que cedo, esse perfil de segmentação nos padrões de visitação entre plataformas—Lovable, Bolt, Replit, Figma Make, v0 e Base44.
O levantamento apresenta dois perfis de usuário. O primeiro é de quem só usa uma plataforma: nos últimos três meses, 82% dos usuários do Replit e 74% dos do Lovable nesse grupo só acessaram Replit ou Lovable. Talvez, por ora, vejam as plataformas como muito próximas, mas escolhem a principal por marketing, experiência ou funcionalidade valiosa. Dizem, informalmente, que Lovable serve mais para web apps bonitos e prototipagem; Replit, para aplicações pesadas e complexas de back-end.
O segundo perfil são os superusuários multiplataforma. Por exemplo, quase 21% dos usuários do Bolt também usaram o Lovable, e 15% dos do Base44 fizeram o mesmo no período. Suspeito que são usuários engajados, aproveitando várias plataformas de maneira complementar. Isso casa com meu próprio uso de ferramentas de design: uso uma para protótipo rápido, outra para detalhes de design e uma terceira para colaboração. Cada plataforma tem seu diferencial—escolho conforme a tarefa.
Estou cada vez mais convicto de que, para ferramentas que ajudam a criar apps escaláveis, especialização e foco superam a generalidade. Ser excelente para um tipo de aplicação é muito melhor do que ser apenas razoável para tudo. Uma plataforma feita para ferramentas internas integradas ao SAP dificilmente será a melhor para criar simuladores de voo extremamente precisos.
Vamos detalhar essa trajetória de especialização. Aplicações distintas impõem requisitos muito diferentes às plataformas:
Aplicativos wrappers de dados/serviços agregam, enriquecem ou exibem grandes volumes de dados ou recursos de terceiros (como LexisNexis ou Ancestry). A infraestrutura precisa suportar manipulação de dados em escala—o principal desafio é o processamento e a integração, não a interface.
Utilitários são apps simples, de função única—conversores de PDF, gerenciadores de senha, utilitários de backup. Plataformas horizontais já dão conta desse perfil. Simplicidade é fundamental, mas performance e confiabilidade continuam essenciais.
Plataformas de conteúdo (ex: Twitch, YouTube) são preparadas para descoberta, streaming e consumo, exigindo backend capaz de distribuir conteúdo em massa—processamento de streaming e algoritmos de recomendação são desafios centrais.
Centros de comércio são plataformas transacionais focadas em logística, confiança, avaliações e comparação de preços—precisam integrar pagamentos, reembolsos, descontos e outros. Conformidade, segurança e integrações financeiras são vitais.
Ferramentas de produtividade ajudam pessoas e empresas a trabalhar e colaborar, geralmente exigindo integração profunda com outros sistemas. Conhecer bem os fluxos de trabalho e o ecossistema do cliente é indispensável.
Apps sociais ou de mensagens facilitam comunicação e compartilhamento, formando redes e comunidades. A infraestrutura precisa escalar em tempo real, lidar com grafos sociais e auditoria instantânea.
Cada segmento, portanto, traz stack de tecnologia, necessidades de integração e experiências de usuário diferentes. Uma plataforma especializada em e-commerce vai priorizar pagamentos, estoque e gestão de pedidos; um gerador de dashboards vai apostar em visualização, dados em tempo real e consultas otimizadas. Especialização é produto de visão e arquitetura técnicas distintas, não só de adicionar recursos.
No fundo, essa segmentação reflete a complexidade de criar software. Embora pensemos em engenharia de software como uma disciplina única, cada aplicação tem seus próprios limites: apps mobile enfrentam desafios de interface tátil, autonomia de bateria e uso offline; web apps demandam compatibilidade de navegador, SEO e responsividade; ferramentas corporativas precisam de segurança, compliance e integração total.
Com o avanço da automação por IA, essas diferenças se tornam ainda mais relevantes. Um sistema de IA focado em landing pages será otimizado para visual, conversão e dados de marketing. Um voltado para ferramentas corporativas internas buscará máxima segurança, integração, controle de acesso e auditoria.
Já vi equipes tentarem construir uma plataforma universal de apps com IA para todos os públicos e usos. Isso ignora um ponto central: objetivos de otimização podem ser conflitantes. Quem busca estética e compliance ao mesmo tempo acaba comprometendo ambos. Plataformas especializadas evitam esses trade-offs e podem entregar a melhor experiência para públicos específicos.
Essa evolução repete o que ocorreu com ferramentas clássicas: super-IDEs all-in-one deram lugar a soluções para web, mobile ou ciência de dados. Cada uma entrega uma experiência incomparável em seu segmento—bem superior à dos generalistas.
O mesmo deve se repetir nas plataformas de geração de apps com IA: soluções voltadas para e-commerce (com integração Shopify e recursos de pagamentos e operações), para dashboards (com conectividade e visualização de dados), para mobile (com padrões iOS/Android, push e ASO).
Os dados de uso referenciados pela Justine são reveladores. “Superusuários” que alternam entre plataformas reforçam meu argumento: cada solução atende segmentos distintos. Um desenvolvedor pode usar Lovable para protótipos rápidos, Replit para aplicações robustas de back-end e outras plataformas para integrações específicas.
Esse padrão lembra a rotina das ferramentas de desenvolvedor modernas: ninguém espera que uma única solução resolva tudo. Usamos Figma para design, VS Code para programação, GitHub para versionamento, Vercel para deploy, Stripe para pagamentos—a combinação de especialistas é mais poderosa do que qualquer “ferramenta para tudo”.
O provável é que a geração de aplicações por IA siga esse caminho: usuários escolhem a melhor plataforma para cada demanda, sem se contentar com uma generalista fraca. Essa liberdade valoriza o ecossistema, pois cada plataforma pode se especializar e entregar excelência.
Outro fenômeno relevante: o usuário hoje é menos sensível ao custo de mudança. Antes, o longo aprendizado levava o desenvolvedor a permanecer na solução conhecida. Com interfaces de IA em linguagem natural, as barreiras de entrada caem, estimulando a busca pela melhor ferramenta para cada tarefa. Isso acelera ainda mais a especialização.
Repensando modelos de negócio
Essa especialização mudará os modelos de negócio das plataformas de geração de apps com IA. O SaaS tradicional aposta em escala e rede, buscando dominar o maior número de usuários. No mundo especializado, importa mais a profundidade do que a abrangência.
Plataformas para e-commerce podem integrar profundamente Shopify, WooCommerce, BigCommerce e outras, gerando experiências inalcançáveis para generalistas. Terão menos clientes, porém mais valiosos e fiéis. Podem até lançar modelos verticais de precificação, como cobrança por volume de transações, não apenas assinatura fixa.
Do mesmo modo, plataformas focadas em ferramentas internas corporativas podem integrar-se ao ambiente de TI, oferecendo SSO, sincronização de dados, compliance e auditoria. Com vendas para grandes contas, não dependem de autosserviço.
A diversidade de modelos vai criar um mercado mais equilibrado. Cada plataforma serve efetivamente seu público, sem tentar abraçar tudo, diminuindo competição direta e aumentando as barreiras competitivas de cada um.
Em investimentos, plataformas diferentes atraem perfis de investidores distintos. Soluções para consumidor buscam quem aposta em viralidade; plataformas corporativas atraem quem procura fluxo de caixa estável e relacionamentos duradouros. Essa variedade trará mais recursos para o setor como um todo.
Na parte técnica, cada tipo de aplicativo exige sua própria stack, reforçando a necessidade de especialização. Plataformas de apps em tempo real (chat, colaboração etc.) otimizam WebSockets, filas de mensagens e sincronização de estado. Plataformas orientadas a dados investem em consulta, cache e visualização eficientes.
Outro destaque: já há divergência na escolha de modelos de IA e otimizações. Geradores centrados em interface priorizam modelos de imagem e datasets de design; os focados em lógica investem em modelos de código e conjuntos de arquitetura. A otimização segmentada é o que confere vantagem a cada solução.
Mais importante: cada app tem seu padrão de qualidade. Aplicativos voltados ao consumidor priorizam interface e experiência fluida—ainda que o código não seja o mais limpo. Empresas, por sua vez, exigem código seguro, sustentável e extensível—mesmo com interface simples. Essas exigências determinam a otimização e o controle de qualidade de cada plataforma.
No deploy e operações, também há distinções. Plataformas para projetos pessoais podem oferecer hospedagem estática em um clique. Soluções corporativas já exigem CI/CD robusto, gerenciamento de ambientes, monitoramento e alertas. Esses detalhes fazem toda diferença.
De maneira mais ampla, a especialização das plataformas de geração de apps com IA reflete uma mudança estrutural no desenvolvimento de software: do universo “centrado na ferramenta” para o “centrado no resultado”. O usuário se importa menos com o instrumento e mais com o que ele entrega. Isso abre oportunidade imensa para soluções verticais e especializadas.
Imagino que veremos cada vez mais plataformas verticais de IA surgindo: dedicadas a games (com profundo conhecimento em engines e design), educação (com integração LMS, acompanhamento de progresso, ensino adaptativo), saúde (com compliance HIPAA, padrões do setor), entre outros.
Essa verticalização mudará também a demanda por talentos. Plataformas vencedoras precisarão de profissionais híbridos—que conheçam IA e dominem seu mercado. Por exemplo, um gerador de apps para finanças buscará talentos com expertise real em compliance, risco e sistemas de negociação. Isso aprofunda ainda mais o diferencial dos especialistas.
Cooperação entre plataformas tende a se tornar mais frequente que a competição direta. Uma solução focada em front-end pode se integrar a uma de back-end, entregando uma experiência completa. Esse ecossistema colaborativo permite que cada player foque no que faz melhor.
No fim das contas, a especialização irá impulsionar o desenvolvimento do setor de geração de apps por IA. Com nichos maduros e soluções sob medida, ganham todos—plataformas criam negócios sólidos, usuários têm suas necessidades atendidas e o setor se torna mais robusto e diverso.
Diante dessas observações, vejo o mercado de geração de aplicativos com IA se dividindo em grandes categorias nos próximos três a cinco anos: plataformas de prototipagem rápida para consumidores, de templates para pequenas empresas, de ferramentas internas sob medida para grandes corporações e uma série de soluções verticais por setor.
Cada segmento deve ficar com dois ou três grandes players, que crescerão investindo fundo e construindo ecossistemas robustos. Essas plataformas não tentarão suplantar as outras; irão aprofundar sua especialidade e oferecer valor difícil de replicar.
Sou especialmente otimista com soluções que constroem barreiras defensáveis em verticais. Por exemplo, uma plataforma focada em restaurantes que integra ponto de venda, estoque, agendamento e finanças—algo quase impossível para generalistas copiarem. Expertise setorial e integração profunda criam barreiras reais.
Também espero uma mudança marcante no comportamento do usuário. Com os custos de mudança caindo, as pessoas vão se tornar altamente “racionais em relação às ferramentas”, escolhendo a melhor para cada uso e não mais se prendendo a um único fornecedor. A especialização vai acelerar—ser o melhor no segmento será o único caminho para se manter no portfólio do usuário.
Do ponto de vista técnico, espero que plataformas especializadas continuem diferenciando treinamentos e otimizações dos modelos de IA. As necessidades de cada área vão guiar a criação de modelos ajustados para geração de código, design de UI, lógica de negócios e muito mais.
O mais importante é que a especialização vai redefinir o que é “sucesso” de plataforma. Antes, sucesso era número de usuários ou alcance. Agora, será influência profunda no segmento, maior valor ao cliente e domínio técnico. Essa evolução vai abrir novas oportunidades e tornar o segmento mais forte e sustentável.
Em resumo, a especialização na geração de apps com IA não é apenas uma consequência tecnológica—é sinal de maturidade do mercado. Conforme as necessidades se diversificam e se sofisticam, expõem-se as limitações das soluções genéricas. As plataformas que realmente conhecem e atendem seus públicos conquistarão uma vantagem duradoura. O mercado é grande o suficiente para muitos players de nicho terem sucesso—o importante é encontrar seu espaço e dominá-lo.
Uma startup stealth de IA, já apoiada por fundos americanos líderes desde o pré-seed, está recrutando fundadores. As oportunidades estão listadas abaixo—caso tenha interesse, escaneie para se candidatar. Para a vaga de expansão internacional, só há dois requisitos: inteligência e inglês fluente. O restante eu ensino pessoalmente.